Friday, January 18, 2008

Les usages du protocole diplomatique


Não chegámos a aprender a comer croquetes, como temia o João, mas estivémos lá perto.

1. A conferência
No ecrã, a planta do Hotel de 5 estrelas onde o evento se vai desenrolar. À primeira vista parecia que íamos estabelecer um plano de fuga de emergência em caso de incêndio ou de ataque terrorista, como está agora mais em voga. Não. O objectivo era descrever minuciosamente todas as salas, com indicação dos respectivos nomes. Para ficarmos com uma ideia mais realista do cenário, circulavam pelas mesas as brochuras promocionais do hotel, para que pudéssemos verificar os lençois cor damasco acetinado onde o moderador iria dormir e a sanita de ouro onde o secretário... escreveria certamente a acta!

2. A visita de Estado do Rei Hussein e da Rainha Noor da Jordânia ao Eliseu
O ressuscitar do Rei é, neste caso, indiferente. O que importa é saber que a recepção no aeroporto tem que ser feita com um tapete vermelho, uma bandeira e, claro está, o hino nacional dos convidados. No ecrã, a planta da cidade de Paris, para podermos traçar o caminho do aeroporto ao Eliseu, tendo em conta que, por motivos de segurança, algumas ruas estarão cortadas ao trânsito. Muito importante: o diplomata que acompanhe os Reis, para além de ter de ser cortez, bem falante e, provavelmente, primo do Presidente da República, terá de ter um excelente sentido de orientação para poder ir indicando os principais monumentos da cidade durante a trajectória. Só por esta última razão, já não há esperança para mim!...

3. A Mesa Kymoto
Pouco importa quem eles são, basta saber que o casal Kymoto, rico e influente, acaba de chegar à Europa e pretende organizar uma soirée, convidando personalidades distintas da vida política belga. Mas, como sentar todos à mesa?? É simples, diriam voçês, faz-se uma mesa à la française, com os anfitriões ao centro, frente a frente, o lugar de honra sempre à direita do anfitrião, seguindo uma ordem que obedece, em primeiro lugar, à alternância homem-mulher e, em segundo, à importância das funções exercidas. Mas tudo se complica quando nos apercebemos que nem todos os convidados falam as mesmas línguas: não podemos, por exemplo, isolar a anfitriã, que só fala japonês, colocando à sua direita o Ministro das Finanças, que só fala francês e inglês, e à sua esquerda o Presidente da Associação Industrial que apenas fala francês... O terror instala-se quando, em acréscimo, se torna evidente que o número de lugares na mesa é inferior ao número de convidados. Haverá, então, que criar uma segunda mesa que será, inevitavelmente, uma mesa de segunda... Pior do que isso, as mulheres estão em minoria, pelo que, para que haja equilíbrio de género também na segunda mesa, haverá que separar casais, entre os quais dois jovens pombinhos ainda em lua-de-mel! Finalmente, é dramático saber onde sentar a filha Kymoto, uma adolescente rebelde que insiste em mostrar a todos onde podem enfiar as regras protocolares!

4. O jantar de gala
Antes de mais é necessário compor o menu. Atenção às alergias alimentares, aos diabetes e à religião dos convidados! Jamais repetir tartes (exemplo: quiche lorraine como entrada e apfelstrudel como sobremesa)! Saber usar pelo menos três garfos, manejar a arte de pegar os copos de cristal consoante se trate de vinho branco ou tinto, não comer o pão do vizinho e resignar-se ao facto de que as senhoras são sempre servidas em primeiro lugar. Um pormenor de importância extrema: saber repartir as atenções, ou seja, durante o primeiro prato fala-se com o vizinho da direita, durante o segundo prato com o da esquerda, na sobremesa retomamos o livre arbítrio e podemos falar com quem quisermos! De qualquer forma, nesse momento é de esperar que o álcool já tenha tomado conta da mesa, fazendo reinar a bandalheira geral.

5. Os convites
Devem ser amavelmente aceites ou cortesmente recusados. Mas sempre agradecidos. Uma forma simpática de agradecer é enviar, no próprio dia, por volta das 17:00 horas, um ramo de flores à anfitriã. Atenção! Enviar e não levar em mão! Seria extremamente deselegante, e desagradável mesmo, aparecer com um ramo de flores, obrigando a anfitriã a ter de arranjar, no momento, um vaso para as colocar - e assim monopolizando por completo a sua atenção, que deve estar igualmente repartida por todos os convidados. Às 17:00, porque a essa hora a anfitriã estará certamente no local a tratar dos últimos preparativos, a saber: decidindo onde sentar o moderador e o secretário (que recentemente se descobriu serem o tal casal de pombinhos em lua-de-mel...); resolvendo o que fazer com o primo do Presidente da República, que só fala francês, e mal; verificando o teor de açucar do sorbet de limão; escolhendo entre a toalha de renda de bilros ou a de brocado em ouro com flores... Ou então, está simplesmente enfiada na cama com uma tremenda enxaqueca!

1 comment:

Alexandra Campos said...

Então é isto que andas a estudar aí? Como ser uma Paula Bobone!