Sunday, June 22, 2008

Do widzenia!


No final há sempre uma confusão de sentimentos, um turbilhão de emoções. Principalmente para os loosers que ficam até ao fim e têm a sorte de ver todos os outros partir. Infelizmente, é o meu caso. Ainda assim, a minha táctica de evitar levas de despedidas colectivas tem-me valido... mais ou menos. É triste ver as residências vazias e silenciosas. E ainda mais angustiante olhar para os quartos abandonados e despidos. Chega a ser degradante tropeçar na papelada largada pelos corredores, enquanto não é despejada no lixo.
Mas foi um bom ano. Duro, mas bom. Intenso, mas rico. Veloz, mas inesquecível.
Como consegui? Virei-me do avesso enquanto fazia o pino e saltava ao pé cochinho com a mão! Tudo é possível.
Agora, terminou e aquilo que ficou para trás será pura recordação - ou, no meu caso, matéria-prima para mais memórias, vivências e miragens!
Por enquanto, é o fim deste amendoim. Venham os Bálticos, a Rússia e outros aperitivos saborosos!

Thursday, June 19, 2008

D Day

Cerimónia de encerramento.
Discursos, prémios, aplausos, conselhos e votos de boa sorte. Senti-me... esperançosa.
Acto contínuo, almoço nos jardins do Palácio, com quarteto ao vivo. Senti-me... privilegiada.
Última actuação do coro. Última entrega de prémios do concurso de fotografia. Última foto da promoção Politkovskaya & Dink. Distribuição do Year Book e primeiras lágrimas. Senti-me... nostálgica.
Primeiros entulhos empacotados e enviados. Avaliação e notas avidamente recebidas e assimiladas. Senti-me... aliviada.
Última festa no BarRosso's. Vodka à discrição e primeiras despedidas. Senti-me... angustiada.

Wednesday, June 18, 2008

Chez Milenka


A pretexto de uma soirée em casa da Milena, passámos pelo campo de exterminação de Treblinka. Exterminação e não concentração porque aqueles que para lá eram enviados só tinham um fim possível. Tudo ficou destruído no final da Guerra, pelo que hoje, quem por lá passa depara-se apenas com restos de fundações e muros, relva, pedras e monumentos simbólico-memoriais. Mesmo com a ajuda das tabuletas, só com esforço e concentração é possível imaginar e reconstituir os factos. Melhor assim.

Já de noite, o calor não chegou só através da fogueira, mas estava entranhado nas paredes de madeira, nos pierogui caseiros, no som do acordeão, nas memórias de infância reavivadas com a coreografia dos "passarinhos a bailar", no vodka, na casa assombrada, nos gatinhos, nos coelhinhos, até no cão, na sessão fotográfica ao pé das roseiras... enfim, no sorriso e boa disposição dos Łukasiewicz!

Tuesday, June 17, 2008

Krakow i Wroclaw


Sempre se confirma que quando as expectativas são demasiado altas, as probabilidades de desilusão são quase certas - e vice-versa. Foi o que aconteceu em Cracóvia e Wroclaw, que posso comparar a Florença e Bolonha, respectivamente.
Cracóvia é cidade de turístas, tem coisas bonitas, como por exemplo as minas de sal de Wieliczka, património histórico, como Auschwitz, e muito âmbar para vender. Mas é Wroclaw que têm espírito, que transpira a séculos de história por todo o bairro gótico, Universidade incluída; que é realidade, por ser velho e gasto, e, ao mesmo tempo, fantasia, local encantado protegido por duendes liliputianos que espreitam a cada esquina.

Friday, June 13, 2008

Trójmiasto & Não


Da "tricidade" ficámos a conhecer Gdansk & Sopot.
A primeira, cidade histórica à beira mar plantada, floresce e enriquece enquanto zona portuária e é o berço inconfundível do movimento Solidarność: a imagem tantas vezes revisitada é a dos operários vigilantes nos estaleiros a descansar sobre pedaços de esferovite.
A segunda é uma espécie de estância balnear. É curioso o facto de se ter de pagar "entrada" para passear no pontão, assim como se paga bilhete para ir ao museu ou para assistir a um espectáculo exótico. É assim que se vê que o mar não é para todos. Foi aqui que, pela primeira vez, molhei os pézinhos no Mar Báltico! A bem dizer, a coisa deu-se mais por acidente do que por qualquer outro motivo, já que o tempo estáva bera e não convidava ao veraneio. Mas, claro está, tinha de conseguir a proeza de levar com aquela que foi talvez a única onda da mês, já que estas águas são tão ou mais paradas que as do Mediterrâneo!

Por água abaixo foi também muito boa teoria, neste dia marcado pelo NÃO Irlandês. Quantas mais ondas por aqui não virão!...

Wednesday, June 11, 2008

Polska biało czerwoni


Partida: 6:45 da manhã. Destino: Rio Biebrza. Um dia em cheio esperava-nos no meio da natureza. Caiaque foi a actividade eleita. Já de colete e remos na mão, ouve-se a pergunta: "Isto demora quanto tempo?". Alguém responde "quatro horas". Quatro quê???? Tarde demais, eu e a Irina já seguíamos juntas pelo rio acima.
A viagem aos "esses" por entre a vegetação aquífera e contra o vento foi um autêntico descalabro. Concorreu para a desgraça total não só a ligeireza dos dois corpos, como também as incertezas em relação ao percurso a seguir cada vez que nos deparavamos com uma bifurcação. A aventura acabou por terminar não quatro, mas três horas depois, quando decidimos ser resgatadas por um pescador que, se ainda nos confortou em relação ao percurso (a técnica do an-do-li-tá sempre funciona), destruiu-nos toda esperança de atingir a meta, quando nos informou que "lá para a meia-noite, talvez..." (eram 6:00 da tarde e tínhamos feito 1/4 do percurso).
A preocupação, agora que estávamos a salvo, era resgatar os outros, que certamente estariam a desesperar, após horas e horas a remar sem fim à vista, quem sabe até mesmo, seguindo o caminho errado, e vendo a noite cair. Lá seguiu então uma equipa "profissional" de salvação.
No final, ninguém se perdeu, mas também ninguém chegou ao fim: o passeio acabou por ser abortado junto do parque de campismo.
Identificadas as bolhas nas mãos, proferidos os insultos e aplacada a revolta, queríamos duche e cama. Mas o melhor que se conseguiu foram uma gotas de água fria e a fogueira para aquecer depois de descobrirmos que os bangalôs prometidos eram umas barracas feitas de paus e corrente de ar.

Apesar da noite em branco, o dia seguinte chegou e tínhamos que estar frescos para celebrar a segunda parte do Dia Nacional Polaco. Primeiro, uma polka dançada em trajes do século XIX. Depois, o jantar no jardim em estilo summer light. Por fim, um casamento polaco típico, com carro típico, comida típica, banda musical típica... até mesmo noivos típicos.

Tuesday, June 10, 2008

Warsaw uprising













O museu fez-me luz acerca de alguns dos traços mais característicos da sociedade polaca.
A presença da Segunda Guerra Mundial é uma constante. É como se tivesse acabado ontem. Toda a gente tem um familiar ou outro que de alguma forma foi afectado pelo conflito: o avô que foi morto pelos raides, o primo que emigrou para os EUA, a mãe que nasceu em Auschwitz... A população foi esmagada pelo sofrimento.
E, depois, finalmente, quando o terror acabou, a libertação chegou sob a forma de mais opressão. O país foi sufocado pelo exército vermelho. A identidade polaca manteve-se agarrada às saias de Moscovo durante mais de 40 anos. Era impossível crescer sob tamanho paternalismo. De tal forma, que ainda hoje vive a sua infância, num esforço contínuo para aprender a andar sozinha.
Não admira que, numa sociedade tão visivelmente perturbada por estes acontecimentos históricos recentes, a memória tenha um papel fundamental e seja o instrumento político de eleição.