A vantagem de ter professores "nórdicos" é que ao mínimo raio de sol temos motivo para ir fazer a aula lá fora. No outro dia, foi mesmo estendida na relva, de lenço na cabeça e óculos de sol; ontem, sentada no banco do jardim, envolvida pelo verde da natureza e o som dos passarinhos - senti-me como uma personagem num romance de Jane Austen.
As aulas continuam ao ritmo normal. Ontem foram 8 horas, hoje 5:30, amanhã 6. Claro que em dias como estes é impensável cumprir obrigações de trabalho extra, como sejam, por exemplo, sei lá... escrever a tese! O cansaço dá-me para guardar documentos em pastas erradas, imprimir 70 páginas de algo que não interessa para nada (com prejuízo tanto para o ambiente, como para o meu bolso), perder meias no caminho para a lavandaria e deixar a écharpe na cantina durante três dias - com o pormenor delicioso de ter olhado para ela e pensado "Olha que engraçado, alguém tem uma echarpe igual à minha!" (mesmo assim não bate o recorde do chapéu-de-chuva que ficou "perdido" durante mais de um mês na sala de aula de Francês).
Os aniversários continuam a verificar-se à média de dois por semana. Ontem às 22h perseguíamos a Ola com flores e cebolas pelo jardim - o apelido dela é Cybulska; à meia-noite já era a vez da A.P., a quem demos uma flor gigante, que entretanto se soube que era tóxica - fica a esperança de que ela tenha dormido de janela aberta...
Comum aos dois festejos foi o sentido de humor do Paul:"...and now, for the real gift!... a Master Thesis already done and finished, just for you!!"
Sim, Meu Deus! Porque que não chovem Master Thesis como cai a água do céu??
Status: 9.995 palavras (12 dias e meio)
Tuesday, April 29, 2008
Friday, April 25, 2008
Daj mi mój telefon komórkowy już!
As aulas de Polaco terminaram. Mas, claro, não sem antes nos fazer passar pela tortura de um exame!
Tive que manter a calma e conceber uma estratégia.
O meu plano altamente perspicaz foi não fazer nada, ou seja, continuar a fazer exactamente o mesmo que fiz durante mais de 7 meses de aulas. Já que por mero orgulho (confesso) não desisti, ao menos terei uma noção verdadeira e crua do tamanho do estrago feito e poderei prevenir, com conhecimento de causa, futuras tentações de aprender línguas "skomplikowanas"!
Sim, não era nesta fase que me ia pôr a decorar os verbos iść, chodzić, pójść, jechać, jeździć, pojechać, que querem todos dizer "ir", mas uns a pé, outros de transportes, uns regularmente, outros só em datas específicas, e provavelmente até alguns ao pé-coxinho ou de burro, no Dia de São Nunca À Tarde ou sempre que a vaca tussa! I rest my case...
Já agora, o título deste post é a tradução polaca de "Dá-me o telemóvel já!". Como todo e qualquer aluno que se preze, tive que decorar esta frase, não fosse a "stôra" querer invadir a minha privacidade ou o raio-que-a-parta no exacto momento em que estava a ver as cábulas no telemóvel!
Status: 7.647 palavras (17 dias e meio)
Tive que manter a calma e conceber uma estratégia.
O meu plano altamente perspicaz foi não fazer nada, ou seja, continuar a fazer exactamente o mesmo que fiz durante mais de 7 meses de aulas. Já que por mero orgulho (confesso) não desisti, ao menos terei uma noção verdadeira e crua do tamanho do estrago feito e poderei prevenir, com conhecimento de causa, futuras tentações de aprender línguas "skomplikowanas"!
Sim, não era nesta fase que me ia pôr a decorar os verbos iść, chodzić, pójść, jechać, jeździć, pojechać, que querem todos dizer "ir", mas uns a pé, outros de transportes, uns regularmente, outros só em datas específicas, e provavelmente até alguns ao pé-coxinho ou de burro, no Dia de São Nunca À Tarde ou sempre que a vaca tussa! I rest my case...
Já agora, o título deste post é a tradução polaca de "Dá-me o telemóvel já!". Como todo e qualquer aluno que se preze, tive que decorar esta frase, não fosse a "stôra" querer invadir a minha privacidade ou o raio-que-a-parta no exacto momento em que estava a ver as cábulas no telemóvel!
Status: 7.647 palavras (17 dias e meio)
Tuesday, April 22, 2008
The Wild Pink Rabbit
Desde o início do ano habituámos-nos a ver os guardas a fazer a ronda à gaiola. Que nem Bruce Willis na cena da piscina do "Unbreakable", invariavelmente eles passam de capa negra pela frente da A2, o anfiteatro envidraçado onde temos a maioria das aulas.
Como é bom de ver, alguem que queira destabilizar uma aula só tem de fazer como os guardas, ou seja, rondar a A2: porque o Professor estará normalmente de costas, mas a plateia de alunos assistirá a tudo.
Assim foi: enquanto o Professor descrevia os futuros cenários da Europa de amanhã, um objecto não identificado cor-de-rosa peludo passava discretamente pela relva lá fora. Seria um pássaro? Um avião? O super-homem? Talvez a pantera cor-de-rosa?? Não. Era o Coelho Rebelde Cor-de-rosa!!!
Desde então, não nos larga! Corre pelas residências, bate à porta de todos os quartos, bebe vodka no bar... até esteve a aprender a dançar reggaeton com um bielorrusso enlouquecido que por cá passou e saltou de uma caixa de cartão só para surpreender a Irina no seu aniversário.
Ai coelhinho, se eu fosse como tu, ia mas era viajar e mandava a tese para o cu-elhinho!...
Status: 4.764 palavras (20 dias e meio)
Friday, April 18, 2008
Countdown
A contagem decrescente começou e eu nem dei por ela.
Estava atarefada com arrumos pós-festa nacional, entretida em almoços domingueiros no calor da família Dziarnowska, presa a filmes como o "Babel" e o "Hotel Ruanda", envolvida no combate mundial à desflorestação, pelo ambiente, a biodiversidade e as populações indígenas!...
Mas hoje lançei a primeira pedra!
Ou seja, começei a escrever a tese.
Foi, para dizer a verdade, um belo de um pedregulho!...
Status: 2.072 palavras (24 dias e meio)
Estava atarefada com arrumos pós-festa nacional, entretida em almoços domingueiros no calor da família Dziarnowska, presa a filmes como o "Babel" e o "Hotel Ruanda", envolvida no combate mundial à desflorestação, pelo ambiente, a biodiversidade e as populações indígenas!...
Mas hoje lançei a primeira pedra!
Ou seja, começei a escrever a tese.
Foi, para dizer a verdade, um belo de um pedregulho!...
Status: 2.072 palavras (24 dias e meio)
Monday, April 14, 2008
Ainda a "pukerrea"...
Neste momento, devemos ser cerca de 15 os sobreviventes - ou será melhor dizer, os resistentes. Não se fala de outra coisa na gaiola. Vive-se um clima de medo, que começa a roçar os contornos da epidemia que José Saramago tão bem descreveu no seu "Ensaio sobre a Cegueira": alguns enfiam-se no quarto, em auto-quarentena, para não apanhar a peçonha; outros enviam mails acusatórios, levantam suspeitas em relação aos culpados, recordam regras básicas de higiene; houve até quem já chamasse a ASAE cá do sítio para verificar as condições da cantina; por fim, uns quantos enfermos apelam ao bom senso e pedem para não serem de discriminados.
Mas se tudo isto servir para adiar o prazo de entrega da tese, nem que seja por dois dias, para mim já valeu a pena! Ficarei eternamente grata aos que, sem saberem, se sacrificaram no momento em que sucumbiram à virulência!
Mas se tudo isto servir para adiar o prazo de entrega da tese, nem que seja por dois dias, para mim já valeu a pena! Ficarei eternamente grata aos que, sem saberem, se sacrificaram no momento em que sucumbiram à virulência!
Saturday, April 12, 2008
Dia Ibérico ou o Vírus do Estômago
Uma semana inteira a correr atrás de patrocinadores, a decorar o bar, a cantina, as residências, a distribuir kits turísticos, programas da festa, programas do coro, a enviar convites, a limpar copos de vinho, a traduzir receitas, a escolher menus, a encomendar flores, a montar exposições, a fazer 50 lts de sangria, a recortar palmeiras e boias de salvação à Baywatch...
Para quê?
Teoricamente, para o tão anunciado Dia Ibérico.
Na prática, para gozo de um reles vírus do estômago, que 5ª feira à noite começou a minar todo o nosso esforço, dedicação e empenho.
Durante os churros com chocolate, ao pequeno almoço, as baixas ainda estavam dentro da dezena. A coisa foi aumentando ao longo do dia, mas durante a paella e o espectáculo de sevilhanas, ao almoço, ainda não era evidente. Às 6 da tarde já mais de 20 pessoas estavam na fila para o médico, que entretanto chegou. Eram, pois, mais de 20 as cadeiras que estavam vazias enquanto servíamos "algo" parecido com caldo verde, bacalhau à braz e pasteis de nata. A coisa ganhava tal dimensão que, apesar do concerto de fado ter sido um sucesso absoluto, terminou com o aviso público de que o médico estava de partida e que, portanto, se houvesse alguém mais que se estivesse a sentir mal, era a hora de dizê-lo.
A festa na praia contou com mais umas baixas. Às 2 de manhã já só cerca de 15 pessoas se banhavam nas águas do Bar Rosso's...
Onde é que já se viu uma festa latina praticamente morta a tais horas??
Só no Dia Ibérico ou, será melhor dizer, no Dia do Vírus do Estômago.
Thursday, April 10, 2008
Portucale
O jantar no Portucale deixou-me nostálgica. A culpa foi dos croquetes de carne e dos rissóis de camarão, do bacalhau com natas e da mousse de chocolate. Quando cheguei ao quarto tive uma visão.
Era a Nação que chamava por mim, a Pátria que clamava atenção ou, simplesmente, o Estado-membro que se me dirigia em pedido de socorro?
Que nem Camões, as Tágides desceram sobre mim e levaram-me a embarcar numa empreitada sem precedentes!
Esta é a minha modesta epopeia, adaptada às tecnologias do século XXI!
Era a Nação que chamava por mim, a Pátria que clamava atenção ou, simplesmente, o Estado-membro que se me dirigia em pedido de socorro?
Que nem Camões, as Tágides desceram sobre mim e levaram-me a embarcar numa empreitada sem precedentes!
Esta é a minha modesta epopeia, adaptada às tecnologias do século XXI!
Sunday, April 6, 2008
Saturday, April 5, 2008
Balkan Day
Croácia, Servia, Macedónia e Bulgária: o que é que estes países têm em comum?
Os Balcãs, que para além de ser o nome da cordilheira de montanhas, é sinónimo histórico de guerra, desordem e violência. A organização conjunta deste dia, se alguma coisa mostrou, foi a vontade de alterar esta realidade.
Na Croácia, come-se polenta com leite ao pequeno almoço, ao som da melodia dos "orgãos de mar", únicos no mundo.
Na Sérvia, fazem-se filmes acerca do amor conturbado entre camionistas daltónicos tatuados e ex-prostitutas grávidas, numa terra de malfeitores. Mas aqui, nem o Super-Homem lhes podia valer! É que foi descoberto kryptonite nas minas da região, naquilo que se poderá entender como uma aproximação inédita da ciência à ficção.
Na Macedónia nasceu Madre Teresa de Calcutá, que estava longe de imaginar que o seu país viria a ser o primeiro do mundo a ter cobertura integral de internet sem fios.
Na Bulgária, dança-se sobre o fogo (Nestinarstvo) e foi uma música típica nacional a escolhida pela NASA para embarcar em 1977 no Voyager 1 e mostrar às outras criaturas do universo que os humanos são pacíficos. Oxalá a música ainda viaje pelo espaço a fazer propaganda por nós!
Mas, pelos vistos, o que está mesmo a dar nos Balcãs é ser camponês, como, aliás, a festa demonstrou noite dentro!
O camponês-pastor discutia a ovelha roubada pelo vizinho.
O camponês-agricultor enfurecia-se pela árvore cortada em terreno alheio.
E também havia quem se descabelasse, de indicador em riste e tom ameaçador, por ser alvo dos flashes das câmaras fotográficas - esse era o camponês-parolo-metido-à-Jet7-empertigado-com-laivos-de-
-Castelo-Branco-no-seu-melhor!
Wednesday, April 2, 2008
Missão impossível
É descrever em 1500 palavras ou 3 páginas outras tantas (21) missões impossíveis da UE pelo mundo inteiro, dar a conhecer os seus fracassos e propor melhorias para futuras intervenções. Bem sei que me queixo por muito e por pouco, mas só vejo uma solução: bullet points.
É conseguir patrocinadores para o Dia Ibérico. Conseguir até se consegue, porque de boas intenções está o mundo cheio! O problema são os obstáculos burocráticos intransponíveis e a Polónia também tem mestria nesta arte. Criatividade e destreza são necessárias para abrir frechas. Por enquanto, sonha-se com o dinheiro prometido.
Nem vou, como é óbvio, falar da tese, que está a 9 páginas........... de bibliografia!...
É conseguir patrocinadores para o Dia Ibérico. Conseguir até se consegue, porque de boas intenções está o mundo cheio! O problema são os obstáculos burocráticos intransponíveis e a Polónia também tem mestria nesta arte. Criatividade e destreza são necessárias para abrir frechas. Por enquanto, sonha-se com o dinheiro prometido.
Nem vou, como é óbvio, falar da tese, que está a 9 páginas........... de bibliografia!...
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